A influência de consultorias privadas no pacote de austeridade do governador José Ivo Sartori (PMDB) tem gerado polêmica pelo potencial conflito de interesses. Com as finanças em crise, Sartori extinguiu 11 órgãos e parcelou o salário dos funcionários por praticamente um ano consecutivo. Com a extinção de departamentos, o relatório do desempenho da economia ou o levantamento dos animais em extinção, por exemplo, precisarão ser terceirizados. É nesse nicho de mercado que especialistas veem conflito de interesse.
Na medida que incentivam o encolhimento da estrutura estatal em defesa da competitividade, aumentam a demanda do setor privado para suprir o que foi extinto. É o caso do PGQP (Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade), órgão criado pelo empresário Jorge Gerdau Johannpeter há 20 anos. O PGQP recebeu R$ 5,2 milhões do governo gaúcho desde 2015 para auxiliar nos projetos de “sustentabilidade fiscal”, “articulação, monitoramento e avaliação de ações estratégicas do governo” e “apoio administrativo”. O pagamento é feito por convênio, sem necessidade de licitação.
Já o MBC (Movimento Brasil Competitivo) auxilia o governo de forma gratuita. Tanto o PGQP como o MBC são sustentados por grandes empresas. O MBC é mantido por Camargo Corrêa, Globo, Odebrecht, Gerdau entre outras. “Os empresários estão dispostos a tirar dinheiro das empresas para ajudar os governos a fazerem gestão” porque doar diretamente ao governo é “colocar dinheiro bom em coisa podre”, diz Luiz Pierry, coordenador executivo do PGQP. As entidades alegam que as empresas mantenedoras não interferem nas consultorias prestadas ao governo. Em Porto Alegre, o MBC chegou a enviar, sem custo, dois profissionais para ajudar na transição do prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB). O novo prefeito extinguiu 14 secretarias.
“Teve influência da consultoria do MBC nisso, mas não só do MBC”, disse Marchezan, citando que conversou com outros prefeitos e entidades para realizar a “reestruturação”. O professor de economia da Pucrs Adalmir Antonio Marquetti enxerga aumento de custos com a redução da máquina. Marquetti foi presidente da FEE (Fundação de Economia e Estatística), cuja extinção foi aprovada. Na FEE, a hora trabalhada de um doutor ou mestre concursado custa R$ 194,00. No mercado, a hora do profissional terceirizado custa R$ 356,00, segundo um economista ouvido pela reportagem. Se um projeto do governo exigir 100 horas de trabalho, custará R$ 16 mil. “Existem diversas instituições, como universidades, que prestam serviços nas áreas de avaliação econômica e estatística, suprindo as demandas internas do Estado e da sociedade”, disse a Secretaria de Governo.
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